domingo, 13 de outubro de 2013

Elefante



A comida não parava de entrar em sua boca.  Era como um trator recolhendo terra para aplainar um terreno, no caso, o prato. O menino era tão magrinho e se alimentava tão mal, que foi assustador para seus irmãos assistir àquela cena.


Eram garfadas e mais garfadas de arroz, feijão, batata, frango e salada, seguidos de goles de suco de melancia para empurrar a comida guela abaixo. Então o processo se repetia, num ciclo infinito de gula desenfreada.


- O que deu em você, menino? - disse a mãe preocupada.
- Eu estou no meio de uma grande mudança em minha vida, mãe. A partir de hoje, vou comer três pratos de cada vez! - o menino tinha um brilho incomum e resoluto em seus olhos. A mãe ficou confusa.
- Por que, meu filho? Você vai passar mal de tanto comer!
- Vofe vuvu pudhndo... - terminou de engolir, e tentou novamente. - Você vive pedindo pra eu comer... Agora vou comer pra valer! Ninguém vai ser maior do que eu! - Ergueu triunfantemente o garfo, como se fosse uma bandeira de guerra.


A mãe se retirou da cozinha preocupada, e foi falar com o pai, pedindo para ele colocar juízo na cabeça da criança. O pai se levantou do sofá para atender ao pedido de sua esposa, enquanto esta subia as escadas, com a intenção de arrumar o quarto sempre bagunçado do garoto. No quarto, passou a retirar os brinquedos do chão, e quando já começava a arrumar a cama, percebeu o que se passava com seu filho. Na televisão, era exibido o desenho de um elefante de armadura e espada, que lutava contra alguns monstros, e em seguida exclamava vitorioso para a tela:


- A melhor coisa do mundo é ser um elefante!


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