domingo, 24 de abril de 2016

Godland

1. Carta para a Delegada


Senhora Delegada,


Que esta carta sirva como confissão e testemunho para todos os fins cabíveis. Sou a única causadora da destruição da Ilha de Godland e do consequente assassinato de centenas de trabalhadores.
Em posição de CEO da Braslima, ignorei falhas gravíssimas de segurança, que resultaram em explosões em uma de nossas principais fundações. Eu estava ciente dessas falhas semanas antes, mas voluntariamente as ignorei tendo em vista a redução de custos.
Os demais membros do conselho não tinham conhecimento ou foram compactuantes em nenhuma das decisões que levaram à catástrofe. Todos estavam sob minhas ordens, e me responsabilizo integralmente pelo ocorrido.


Atenciosamente,


Vanessa Lima


2. Artigo publicado no site G9


Godland: A História Mal Contada
Por: Jota Wilkes


Nesse último mês temos sido bombardeados por notícias sobre a tragédia na Ilha de Godland. Equipes de socorro ainda buscam por corpos. Famílias indignadas pedem justiça. A recente confissão da ex-sócia majoritária não pareceu diminuir o alvoroço sobre o assunto.
Vanessa, em sua carta, se voluntaria para o cargo de bode expiatório. Não há explicações profundas sobre as tais falhas de segurança, quem as identificou, nem quaisquer evidências que possam ser confirmadas na atual conjuntura. Ou seja, não há nada com o que trabalhar. Se sua intenção era se martirizar e não causar problemas para mais ninguém, ela falhou em sua missão, pois ao invés de desviar o foco da mídia em cima da empresa, essa carta nos faz duvidar de sua própria veracidade.
Uma explosão nesse nível não acontece de uma hora para outra. São necessárias muitas decisões erradas em sequência e uma conivência coletiva entre muitos setores para realizar algo tão catastrófico. Afinal, quantos engenheiros, cientistas e profissionais de segurança estavam trabalhando no local? Ninguém percebeu isso antes? Como é possível que uma CEO, cujo trabalho está muito mais relacionado a reuniões, documentações e problemas em nível executivo, seja responsável - sozinha - por afundar em alto mar uma ilha inteira?
Algumas dicas para o pessoal da Braslima, diretamente dessa Joana Tavares Wilkes que vos fala: Assumam publicamente o ocorrido. Expliquem o acidente de maneira plausível. Paguem indenizações. Procurem compensar o impacto ambiental que vocês causaram (se é que possível). Enquanto vocês não fizerem isso, as famílias continuarão indignadas, os protestos continuarão ativos, e os inquéritos continuarão em andamento.
Não há consolo em explicações superficiais, e nem esperança no pouco caso com as investigações. Porque no fim, tudo o que temos é a sensação de impunidade e injustiça que já conhecemos bem, aquele sentimento amargo que, diante de um mês de enrolações e baboseiras, nos leva a repetir aquele triste mantra de nossa geração: “Virou Brasil”.


3. Notas da Dra. Talita


Quinta sessão. Vanessa permaneceu retraída. Fugiu deliberadamente das minhas tentativas de contato, e respondeu a meus questionamentos de maneira simplista. Ela ainda exibe alguns traços de paranoia, mas ao longo das últimas sessões tenho percebido que ela está ficando mais à vontade em minha presença. Ela parou de me chamar de doutora, e agora só me chama de Talita.
Sua única variação de humor ocorreu quando lhe perguntei sobre a tal da Aruana. Isso a fez ficar nervosa e quase agressiva. Fui informada sobre a existência de Aruana uma semana antes através de Roberto, que atuou como um dos engenheiros em boa parte da construção. Aparentemente, se tratava de uma rebelde que queria impedir as obras na ilha.
Por alguma razão, Vanessa guarda grande mágoa dessa mulher. Acredito que seja melhor não abordar esse assunto tão diretamente nas próximas vezes.


4. Publicidade


Venha morar num paraíso tropical


O Residencial Godland está em fase inicial de construção e será o primeiro loteamento nacional localizado em alto mar. O empreendimento proporcionará toda a infraestrutura e segurança necessárias para acomodar sua família, além de estar localizado em uma ilha repleta de praias paradisíacas e paisagens naturais incríveis.


E não se preocupe com o transporte! O local contará com dois heliportos, um Iate Club de frente para o mar e uma linha de trem subaquática projetada por engenheiros franceses, construída especialmente para atender aos mais de 10 mil moradores do condomínio. Godland é o mais novo sinônimo de conforto, segurança e qualidade de vida no litoral brasileiro.




5. #DesastreGodland


Yvonne @yvnn98
Ligue a TV agora para assistir ao vivo a 7ª temporada de LOST, minha gente!!! #DesastreGodland


A Cidade Grande @jornalcidadegrande
Investigador diz haver muitas perguntas ainda não respondidas sobre o #DesastreGodland. Clique para saber mais: http://goo.gl/U76YDZ


Miss Winter @mariiwinter
Pessoas morrendo no #DesastreGodland, e a internet fazendo piada. Assim seguimos alienados :(


Eu Sozinho Comigo Mesmo @mylifemeandmyself
Contando os segundos pra Godland virar uma briga internética de esquerdistas vs direitistas #DesastreGodland


Mathias Ribeiro @mathi_ribe
In brazilian portuguese we don't say "the island sank" we say "o barraco desabou" and i think that's beautiful. #DesastreGodland


Line 2.0 @alineguaruja
WHO THE FUCK É ARUANA e por que toda hora ela é citada? Ela fez alguma coisa fora protestar? #DesastreGodland


Wilson Faws @wilsonfaws
Às vezes as coisas só começam a ser feitas da maneira correta depois que uma merda acontece. Triste essa nossa postura #DesastreGodland
Iwami News @iwaminews
ブラジルの島は大企業によって破壊されました


Tom Hanks @tomhenqsofissial
Virgimaria, ainda bem que eu sai de lá a tempo #DesastreGodland


Minha Horcrux é o Poder @shkasjlas
Japão tem Godzila, Manhattam tem Supervilões, Escócia tem Monstro do Lago Ness. Nós temos gente burra mesmo #DesastreGodland


6. Trecho do Livro “Religiões Extintas no Mundo”


(...) é de conhecimento geral que diversas culturas antigas seguiam a crença animista, e tratavam cada árvore, animal e até mesmo a terra e o rio como entidades vivas. (...) As variações desse tipo de crença estão relacionadas principalmente com a abrangência dessas entidades. Algumas tribos pendiam para o panteísmo, endeusando, além da natureza, os familiares e amigos falecidos; outras levavam o animismo até o nível micro, adorando animais menores, insetos e grãos; e outras para o nível macro, idolatrando a Lua, o Sol, regiões inteiras, o ar, o céu, etc. Algumas dessas crenças persistem ainda hoje em tribos isoladas ou misturadas com os conceitos de outras religiões (...).


7. Entrevista de Roberto para a Revista Enxergue


Roberto Torres da Silva foi um dos poucos engenheiros que sobreviveram ao desastre. Seu trabalho na Braslima foi o maior tempo que permaneceu em uma mesma empresa, cinco de oito anos na profissão. Roberto teve contato com pessoas importantes da empresa, e afirma ter informações ainda não reveladas sobre Vanessa e Aruana. Em entrevista exclusiva para os leitores da Revista Enxergue, ele contará tudo o que sabe sobre o que aconteceu em Godland.


Revista Enxergue: Como engenheiro, qual sua opinião sobre as explosões na ilha?
Roberto Torres da Silva: Pessoalmente, acredito que não ocorreram, uma vez que não foram encontradas evidências até o momento. Apesar de não haver muitas outras explicações plausíveis, minha teoria atualmente é a de que a ilha já estava fadada à destruição, talvez tivesse um alicerce fraco e que foi abalado com as construções. O desastre pode ser atribuído a uma falha na avaliação da fundação, mas não mais que isso.


RE: Sendo assim, você acredita na inocência de Vanessa?
RTS: No que se refere à uma pretensa explosão indevida, não acredito que ela tenha deixado de seguir qualquer recomendação de segurança.


RE: Por que diz isso?
RTS: Vanessa estava 100% dedicada a esse projeto. Ela abriu mão de relacionamentos, eventos, prestígio pra ver esse condomínio construído. Sua liderança era forte, ela cumpria rigorosamente todos os prazos. Muitas vezes ela ficava nervosa e agia de forma insensível com os funcionários quando surgia um problema, o que apenas comprova a obsessão dela com a perfeição em cada detalhe. Difícil acreditar que, após todo esse esforço e postura, ela se transformasse sem qualquer motivo na maior infratora do projeto.


RE: Há chance das explosões terem sido arquitetadas?
RTS: Sim. É muito fácil olharmos para Vanessa e falarmos “Ela é CEO, então ela é a culpada”. Mas a verdade é que Vanessa tinha opositores, liderados por Aruana, que pareciam estar dispostos a qualquer coisa para impedir a construção.


RE: Contra o quê protestava Aruana?
RTS: Aruana era contra a construção em si, por ser necessário desmatar e ocupar parte da ilha. Ela provavelmente chegou em uma das diversas excursões realizadas em parceria com as faculdades, e se instalou no local como forma de protesto. Mas a verdade é que também não temos evidências disso. Não sabemos sequer onde ela dormia e com ela se alimentava naquele local deserto. Teorias a parte, o fato é que Aruana aparecia e desaparecia quando bem queria.


RE: Uma das teorias divulgadas na mídia até o momento é a de que Aruana está relacionada de alguma forma com as explosões. Você sabe de alguma coisa a respeito?
RTS: Não tive a oportunidade de encontrar Aruana pessoalmente, só a vi de longe. Mas pelo que me falavam, seu protesto era pacífico, e ela parecia até mesmo feliz de estar ali lutando pelo que acreditava. Essa atitude de Aruana deixava Vanessa irritadíssima.


RE: Então Vanessa e Aruana chegaram a conversar uma com a outra?
RTS: Vanessa tentou muitas vezes negociar com Aruana, e removê-la da ilha. Conforme essas conversas aconteciam, Vanessa ganhou um grande respeito por ela, e acho que tinha até mesmo um pouco de inveja da aparente alegria que a Aruana exibia mesmo em meio a uma situação de revolta.


RE: Obrigado pelo seu tempo, Roberto. Gostaria de deixar uma mensagem para alguém?
RTS: Sim, para a própria Vanessa. Se estiver lendo essa reportagem, saiba que não acredito que tenha sido sua culpa. Por favor continue em terapia, seja forte diante das investigações, e procure viver novamente. Seguir em frente é a melhor forma de compensar ou se desapegar do que houve no passado.


8. Um Post no Facebook


Fabrício Gutierrez
8 min  - Belo Horizonte


De vez em quando a justiça funciona no Brasil, mesmo que em migalhas. Uma já foi. Talvez em alguns anos todos os responsáveis sejam descobertos e essa história acabe com os criminosos sendo devidamente condenados.


98 curtidas
11 compartilhamentos
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Thomas Ricardo Falou e disse!


Carolina Freitas Ein? O que aconteceu? Caí de paraquedas…
 
Fabrício Gutierrez A Vanessa da Braslima foi presa, Carolina!
 
Carolina Freitas Sério? Nem lembrava mais que esse caso existia… Quantos anos ela pegou?
 
Fabrício Gutierrez Se não me engano, 30 anos. Por causa da confissão e da falta de provas. Senão teria sido uns 740.


José Carvalho de Paula Essa puta tem mais é que arder no inferno. Chega de impunidade.
 
Erick Souza [2]
 
Tatiana Koch [3]
 
Fabrício Gutierrez [4]
 
Aline S2 Yuri [232323232323232323]


Adriana F.L.T. Achei todo esse processo muito estranho… Várias evidências apareceram de repente… E a carta dela há meses atrás… Não estou afirmando nada, se ela é culpada, ela deve ser presa, e ponto final. Mas fiquei com uma pulga atrás da orelha.


Jota Wilkes Agora é função dos brasileiros continuarem pressionando para que as coisas caminhem de verdade.
PS: Caramba Fabrício, 87 curtidas e 10 compartilhamentos em 6 min? Vou largar minha coluna e virar youtuber também hahahaha.
 
Fabrício Gutierrez Beijo no ombro pras inimiga! =P


Ulisses Rogers  Até que enfim a pilantra foi presa. Continuemos na torcida por um Brasil melhor.


9 - Diário de Vanessa


23/outubro
Talita sugeriu que eu escrevesse um diário, para me ajudar a colocar os fatos em perspectiva. O problema é que eu sei quais são os fatos, e não há como colocá-los em perspectiva… Eu acho… Depois eu tento.


27/outubro
Pensei muito em por onde começar a contar minha história, e me decidi. Minha história começa e termina em Aruana, a desgraçada que destruiu minha vida.
Quando ela apareceu, eu não sabia direito o que pensar. Ela estava chamando a atenção da mídia, e eu precisava tirá-la de lá. Mas eu nunca vi uma pessoa igual a ela. Roberto chegou a me falar um dia que ela era a única pessoa que parecia feliz naquela ilha.
Estou confusa. Não sei se esse diário foi uma boa ideia.


28/outubro
Não falei ainda da prisão. Tenho uma cela só pra mim, e não tem muita gente pobre aqui. Vantagens de se ter um diploma. A comida é razoável, considerando que é de graça. E que eu estou presa. Não sei se posso reclamar. Mas o calor está começando a incomodar bastante.


13/novembro
Vou organizar os pensamentos.
Primeiro, conheci Roberto. Ficamos algumas vezes, e aí eu terminei com ele antes que ficasse sério. Quando as obras começaram, Aruana se revelou e começou a protestar. Isso chamou a atenção da mídia. Então as coisas estranhas começaram a acontecer, mas ninguém soube disso. Eu culpei Aruana. E então eu a matei (acho que posso contar isso aqui, todo mundo acha que estou louca mesmo).
Talvez eu deva contar cada parte de maneira separada.
Saco. Odeio escrever.


04/fevereiro
Faz tempo que não escrevo. Tivemos vários eventos de final de ano, e depois eu me esqueci.
Bom, Aruana… Vamos falar da Aruana… Eu não gostava dela… E a ilha…
Dane-se. Não estou com saco para escrever hoje.


20/fevereiro
Esse lugar tem um jeito especial de piorar você. Estar isolado do resto da sociedade não pode ser uma coisa boa para reabilitar alguém a fazer parte dela de maneira saudável. Ainda mais se a filha de um trabalhador que morreu por sua causa por acaso foi parar na mesma prisão que você e decide te atacar.
Dei uma bela surra na vadia.


22/fevereiro
Eu tentei conversar com Aruana quando ela começou a protestar. De onde veio aquela puta, afinal, querendo interferir com meu trabalho? Várias vezes quis meter a mão naquela cara sorridente.
Ela não aceitaria outra coisa senão a desistência total. Ela queria que as construções parassem, dizia que estávamos destruindo a ilha e que ela não poderia permitir que fizéssemos aquilo.
Um monte de idiotices.


07/março
Já faz alguns meses que estou aqui. Não sei se algum dia vou me acostumar com esse lugar.
Acho que estou vendo coisas. Posso jurar que vi um prisioneiro ontem. Sim, do sexo masculino. Ele apareceu no corredor e apontou um dedo na minha direção. Pode ter sido só um sonho também.
Não vou contar isso pra Talita.


16/maio
Estou fazendo um curso de jardinagem. Eles tem esses cursos de coisas inúteis aqui, para nos manter ocupadas. Mas estar em contato com outras pessoas está ajudando muito mais do que escrever essa merda de diário. Conheci Helena, que fica na cela bem na frente da minha e Alberta, que é de outra ala.
Acho que vou terminar logo de escrever essa história e focar em manter minha sanidade. Helena tinha alguns anos pela frente, mas vai sair em agosto por bom comportamento. Vou seguir o exemplo dela e ser uma boa moça.


18/maio
Talita, de alguma forma, sabia que eu estava alucinando. Não sei como. Contei pra ela sobre o prisioneiro que eu via de vez em quando. Ela me disse pra continuar escrevendo o diário e me envolvendo com as pessoas. Se as alucinações continuassem, ela tomaria as devidas providências.
No dia seguinte, eu o vi de relance, parado em frente à minha cela.


22/maio
Não sei direito como explicar as coisas a partir daqui sem que eu pareça mais louca ainda. Aruana começou a protestar, e depois que eu falei com ela algumas vezes, fios começaram a se romper, infestações de insetos e aranhas apareciam pela manhã, e um trator chegou a ser avariado por uma árvore que caiu em cima dele.
Aquilo estava impactando o projeto, já estávamos vários dias atrasados por conta dos reparos e cuidados com trabalhadores doentes. E eu já estava POSSESSA. Era Aruana. Tinha que ser.
Quando tive a chance de perguntar-lhe pessoalmente, ela confirmou. Filha da puta. Ela disse algo como: “Eu avisei, Vanessa, não posso permitir que façam isso. Para destruir a ilha, vão ter que me destruir primeiro”.
E foi exatamente o que eu fiz.


01/junho
Ele chamou meu nome. Eu ouvi ele falar.


06/junho
Foi com uma pedra. Bati na nuca da vadia com toda a força. Não deveria ter feito aquilo. Eu estava com muita raiva, e com razão! Mas se eu soubesse o que iria acontecer, talvez tivesse a chance de evitar.
Quando ela caiu morta, a grama ao redor dela também morreu. E então as árvores mais próximas, os animais, tudo começou a morrer. A desgraçada estava ligada à ilha de alguma forma. Voltei correndo para a construção, todo mundo estava assustado com as árvores e plantas de repente perdendo a cor. Me fiz de calma, como sempre, e entrei no Iate da empresa para tentar contatar alguém. Não deu tempo nem pra isso.
Ouvimos um barulho vindo do mar.  A ilha tremeu, como se estivesse se quebrando, e estava mesmo. Aos poucos, ela deslizou para o lado e afundou, seguida de uma enorme onda que sugou nosso projeto e nossos trabalhadores para o fundo do mar.
Ainda sonho com os gritos desesperados. E com silêncio que veio logo depois. O silêncio é a pior parte.


11/junho
Eu tomei coragem e perguntei algo para ele. Perguntei quem ele era. Não esperava que ele fosse responder, mas foi isso que ele fez. Ele disse algo mais ou menos assim:
“Eu sou as paredes, o chão, os ratos, os banheiros. Sou as lâmpadas, a barras de metal e os lençóis. Você anda em mim, dorme em mim e respira em mim. Eu sei o que você fez com aquela que era terra, grama, árvores e aves. Não há como fugir daqui”.


18/julho
Eu sei que mereço estar aqui. Às vezes penso que quando sair eu ainda terei tempo de construir alguma coisa, mas é besteira. Já vou estar velha, não vou ter tempo de nada.
Já fiz minhas pazes com isso. Talvez eu aprenda algo e deixe algo para o mundo daqui de dentro. Johnny Cash fez música na prisão. Dom Quixote foi escrito na prisão. Não gosto nem de escrever nem de tocar instrumentos, mas vou pensar em alguma coisa pra deixar pro mundo.
E o prisioneiro, mandei ele me deixar em paz, senão eu faria com ele o mesmo que fiz com Aruana.


10. Poesia de Helena


A Vingança do Presídio


A água é viva
A pedra é viva
O mundo é vivo
A ilha é viva


O homem tem poder
De matar, de viver
Toca e destrói
Mata mas não vive


A água morre
A pedra morre
O mundo morre
A ilha morre


A justiça que chama
O júri que condena
Algemas que prendem
A cela que espera


Comida ruim
Cama quebrada
Cela fechada
Visão bizarra


Detento que persegue
Presídio que assombra
Ele também vive
Ele também sofre


Comida fria
Cela se abre
Corpo inerte
Morte sombria


Ela matou a ilha
Presídio lhe matou
Godland pereceu

Ele se vingou

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Este conto foi escrito para o desafio #Escreva2016, sob o mote "Uma história com trem, ilha e inveja".
Para conhecer mais, clique aqui.